domingo, 26 de abril de 2009

Tema: Barba

"- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? 
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino." 
(Manuel Bandeira)

Era tão somente despir suas roupas e entrar no banho que sentia seu ventre podre. Aquele dor não sentida de que pariria ali mesmo um ser estranho, nem humano nem rato, fruto de algumas relações casuais que tivera. Barbas que lhe roçavam o pescoço, pelos que se misturavam aos seus, aqueles olhos tão azuis, tão profundos que lhe encaravam, tentando ver além do seus, tentando ver aquela criatura grotesca que imagina trazer no ventre. Era uma cólica que não passava, não tinha cura nem remédios. Já tentara boldo, agrião, homeopatia, remédios. Uma vez tentou um tango.

Tão logo tocaram um tango argentino foi a morte anunciada do seu ventre, o tango argentino que muitas vezes parece melhor que um blues. O luto do tango póstumo. O luto do seu ventre apodrecido que jamais gerou fruto algum.

Nem homem, nem rato.

Lorena Borges

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